Marcos Clark. Tecnologia do Blogger.

domingo, 29 de agosto de 2010

Forasteiro


Estou sozinho. Foi a verdade que achei.
Depois de viajar por tantos lugares e conhecer tantas pessoas percebo que sou o último de mim mesmo.
Não existe um lugar que eu possa chamar de lar, nada, nem ninguém capaz de me encontrar.
Eu não sei quem eu sou. Talvez nunca vá saber.
Já não tenho família, nem pessoas que possam dividir comigo segredos tão assombrosos.
Tudo me perde o sentido.
Já não sei o que faço, nem o porque de estar fazendo.
Eu posso te curar, mas adoeço cada dia mais.

Sempre gostei de acreditar que minha grande missão era descobrir de onde vim, porque somente assim poderia saber quem hoje eu sou. Nada encontrei.
Minhas atitudes e talentos não foram presentinhos dado pela divindade, mas porque eu os possuo?
Já não sei em que usa-los, é responsabilidade demais.

Neste mundo podre, me entedio facilmente, nada aqui é novidade.
As coisas nascem e morrem com tamanha velocidade que acabam nunca conseguindo de fato atrair minha atenção.
Agonia é o que me resta.
Sabendo que o tempo esta passando e ainda não achei meu caminho.

Talvez eu tenha medo. Medo de descobrir minha verdadeira origem.
Medo de que possa ser bem pior do que pensei. Medo do que está por vir.
Me dizem que pra que exista um herói é necessário que aja um vilão, e o que temo de verdade é pensar que no meu caso o vilão pode residir dentro do próprio herói.

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Individualidade


Conheci centenas de pessoas, milhares. Rodei todo o Brasil como um eximio pesquisador, quase uma obsessão. Morei em dezenas de casas em lugares diversos e nada. Ainda não consigo saber quem eu sou.

Você passa grande parte de sua vida tentando encontrar alguém como você, que mesmo que distantes tenham a certeza que existe alguém ali, alguém que lhe compreenda justamente da maneira que deseja ser compreendido. Não encontrei. Acredito mesmo que ninguém vá encontrar.

Não existem cópias de carbono andando por aí como se fosse você. Não existe nada nesse mundo tão complexo quanto a soma de seus medos e experiências.
Nada no globo é tão intrigante quanto sua própria individualidade.
Somos únicos. No meio de tudo o que vivi, e de tudo que tive de fingir, sei bem como a individualidade pode pesar.

É cruel demais saber que ninguém no mundo possa lhe oferecer o conforto de sentir exatamente da mesma maneira que você sente, ninguém que divida com você suas origens e verdades. Nada, nem ninguém é capaz de fazer você encontrar a si próprio. Mas ao mesmo tempo é fascinante.

É fascinante a sensação de que além de você mesmo, não exista ninguém dentre milhões, bilhões de indivíduos que aja e pense da mesma forma que você. Você é único.
Não é de onde você vem que define quem você é. É justamente a maneira como você lida com isso que define o quão grande possa ser, é como você faz, como você sente e tudo pelo que já passou. Isso define o quanto sua vida é interessante e especial.

Já rodei quilômetros tentando encontrar as respostas, sem notar que elas se encontram aqui mesmo, dentro de mim.

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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Thanatos


Pensar no fim é inevitável. A única certeza que se tem é essa, pessoas nascem e morrem, é assim com todo mundo, ou deveria ser.

Eu me defino no fim, temente. A morte não me causa temor algum, mesmo não suportando a idéia de mais um ponto final, a morte em si me passa quase desapercebida.

Eu temo todo aquele drama.

Se for pra morrer, que eu morra por um ideal, por uma paixão.
Que minha morte seja pra alguém, o que sem dúvidas não será pra mim.
Sem pieguice ou cautela, digo que desejo morrer por amor, o único bem que não possuo.
Quero senti-lo em minhas mãos ao menos uma vez.


Tenho andado no piloto automático esperando algo grandioso ocorrer, como se esperasse o esbarrão súbito da felicidade que enfim resolveu aparecer.
Já não me importa ser feliz. Desde que não tenha ninguém me perturbando, não necessito de felicidade.
Mas eu quero um motivo. Algo que me transporte novamente pra meu próprio território, que me reacenda a lembrança de algum sorriso dado na infância. Que me traga novamente o interesse, mesmo que na hora fatal.

Nada é interessante a quem não está realmente interessado, tudo passa por debaixo dos meus olhos e nada faço.
É preciso agir. Eu vou me interessar.
Aqui parado, escrevendo num restaurante movimentado de Niterói só estou perdendo tempo.
A vida está passando lá fora, enquanto estou aqui lamentando o que não vivi.
Tanta gente ao redor, e ninguém aqui dentro.
É preciso estar vivo para que se possa morrer, mas sem um bom motivo que valha a pena morrer, você já está morto.

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Iris


Queria poder me mostrar à você. Queria poder despir minha humanidade e lhe fazer entender o que sinto.
Não sei lidar com toda essa responsabilidade, essa pressão de ser quem devo ser.
Já não quero ser assim. Não me serve mais, nunca serviu.

Se pudesse me ver, creio que entenderia, e me amaria como nunca amou.
Mas não posso. Não é hora.
Não consigo.
Esse talento mais parece maldição. Eu não sei lidar.
Me escondo numa vida ingrata, nesse corpo falho, pequeno.
Sou maior que meu corpo. Sou pior que você.

Você sabe que desistiria de tudo isso por você, se ao menos escutasse.
Abra os olhos, estou bem aqui, despido, totalmente nu bem na tua fronte.
Me toque, me sinta. Você consegue, eu acredito.
Feche os olhos e perceba o que sempre tentei lhe mostrar.
Estou em sua cabeça, você está na minha, já não sei mais ao certo.

Se pudesse me ver, se pudesse me ouvir, tudo faria sentido.
Porque tu não tenta?
Me desvende, me decifre.
Descubra meus segredos, minha origem.
Minha eterna juventude e pensamentos avançados.
Minha sede pelo amor, minha paixão pelo torpe.
Nem herói, nem vilão, já não sei mais quem sou.

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Chamado


Solidão aqui, cadê você?
Tenho esperado por tua chegada desde o dia que me despi do ventre materno,
desde que minhas penas caíram sob terra, lá estava você em meus primeiros sonhos.
Nasci por você, nasci pra você.
Quem és?

Me rendo e me atiro em tantos braços improvisados acreditando te encontrar.
Não acho. No vazio me jogo, abraçando a mentira.
Estou a despir tentando te achar.
Me entrego de corpo e alma, mas você não está.

Objetivo de vida, esperança, minha paz.
Grito forte e bem alto. Não me escutas jamais.
Me tome, me torne teu servo.
Exija o impossível e estarei à teus pés.

Eu te quero, te grito, te crio.
Te invento e reinvento o que já fora inventado.
Te leio em manuais, me fiz profissional.
Ainda quero sentir o feliz do final.

Quando enfim me encontrar, estarei ao dispor.
Qual é mesmo o teu nome?
Só te chamo de amor.

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Complexo


Não suporto aniversário, é cada vez mais catastrófico.

A cada ano que passa, sinto como mais um ano perdido.

A cada amanhecer, me aproximo mais do fim, é inevitável.
Glorifico a juventude, mesmo que velha, por sua beleza feroz e o desejo impetuoso.
O mundo pertence aos jovens, não é mais segredo pra ninguém.
Jovens revolucionam, jovens sonham, jovens se apaixonam.

A maturidade sempre fora um dos meus maiores medos, não gosto de acreditar que meus sonhos possam vir a cair por terra.

Meus ideais não podem ir por água à baixo em razão de minha idade. Minha realidade não pode ser desmistificada.
Me deixem sonhar, não me abram os olhos, I wanna be forever young.

Não me venham com esse papo de que envelhecer é necessário, que rugas é sinônimo de sabedoria. Não é.
Conheço jovens que aos 20 conhecem mais da vida do que idosos de 90.
E conheço idosos de 90 que são mais jovens do que os próprios jovens de 20.
No mundo é tudo relativo.


Sempre terei 20, e agradeço por isso.

Na eternidade minha juventude perpetuará, live fast die young, isso se ao menos eu acreditasse na morte. Já não acredito.

Acredito nos jovens.

Juventude é coragem, rebeldia, questionamento.
Juventude transviada, permaneçam fora do eixo, é assim que tem de ser.

Não dê ouvido a adultos amistosos que insistem em te cortar as asas.
Assim como vocês, eles também foram jovens, e como que por vingança, acreditam que a realidade deles irá desbancar os teus sonhos. Não irá, isso só depende de vocês.
A diferença entre sonho e realidade é apenas uma questão de ponto de vista.
Meus sonhos são mais reais do que esse mundo, minha idade bem maior do que os anos que vivi.
Não me sinto feliz por estar envelhecendo.

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sábado, 14 de agosto de 2010

A queda



Já nascera morto. Pelo menos deveria se sua tentativa intrauterina de asfixia houvesse dado algum resultado.
Forçado a entrar naquela bolsa de sangue, forçado a ter sensações humanas, aquilo o deixara transtornado.
Havia por século invejado o livre arbítrio e os cinco sentidos, os havia superestimado.
Com suas asas arrancadas, fora obrigado a viver tudo aquilo que ansiava, mas agora lhe causava calafrios.
Começara a repudiar aquele mundo mesmo antes do nascimento, com todas as forças nutridas por aquele fio espesso ao redor de seu pescoço, aquilo que como o própria nome sugeria era ali que deveria ficar. Um cordão.
Sabia que por si só, naquele mundo estava fadado ao fracasso. Milhões de humanos que nada faziam pra mudar, conformistas. Ele nunca fora conformista. Desde a criação, havia questionado todos os dogmas e verdades vindas do criador, aquele sem face, que de tão seletivo, havia se tornado lenda entre os que não podiam visualiza-la.

Sozinho estava perdido, em um corpo humano era quase descartável.
Nascido mal formado, não chorara. Desde seu primeiro suspiro, já não tolerava nem sequer aquela regra que dizia que era necessário chorar. Como um grito da frustração que sentia, ele calou.
Sua tentativa insatisfatória de forçar a passagem aos seis meses falhara, agora aos oito nascera a salvo insatisfatoriamente.

Repudiara o leite materno, seu único sustento naquela órbita irregular. Sentia como se o abraço de sua mãe fossem correntes que o traziam à realidade. Ele era grande demais pra matéria que o envolvia, ávido demais pra ficar ali deitado.
Sem forças, fora obrigado a sentir aquele gosto amargo do leite mal fermentado, azedo.
Após sentir pela primeira vez a podridão da raça que antes venerava, adormeceu por 3 anos.

Por 3 anos comia e dormia como um parasita malfeitor.
Recusava a vestimenta, já previa a tormenta.
Seu pai vagabundo, sua mãe desleixada. Seu irmão? Ah, como ele queria chamar aquilo que lhe açoitara de irmão.
Estava só.
Nutria a raiva do Criador por ter atendido seu pedido da pior maneira possível jogando-o num antro de podridão e discórdia. Um anjo caído.

Antes guerreiro, agora percebera que seu nascimento no meio de bilhões era quase imperceptível naquele universo constantemente em expansão.
Se lhe cabia uma missão, não soubera responder. Detestava crer que não existia.
Em seus três anos de vida, recusava a falar não porque não sabia, ele sabia, mas por puro inconformismo malcriado.
- Mamãe, eu te odeio. -foi sua primeira frase.
Ele ainda não aprendera a mentir.

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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Inspiração


Vou lhes contar um segredo: sempre detestei estudar.
Seja lá qual matéria, eu detestava aquilo tudo.
Português, matemática, história, literatura...
Sempre achei uma grande perda de tempo todo aquele conhecimento forçado, na maioria inútil.
Sei lá, sempre tive uma facilidade muito grande de aprender, e antes da metade do ano eu já tinha lido o livro didático por inteiro, sabendo antes de ser ensinado tudo aquilo que o professor me forçara a aprender. Eu detesto professores, mas sou viciado em conhecimento.

Meus professores em sua maioria só serviam pra cortar minhas asas e dizer que minha maneira de escrever estava errada.
Até que apareceu Beth Torres, uma professora de literatura e português.
Ela lia meus textos com uma paixão de fã e vivia dizendo pra eu não me preocupar com erros ortográficos e conjugações de verbo, porque na realidade o que valia de verdade era o conteúdo, não a forma, e me incentivava a escrever não sobre colégio, mas sobre a vida.
Foi ela quem me deu meu primeiro livro, Outsiders - Vidas sem rumo, de Susan E. Hinton.
Ela dizia que aquela história poderia me inspirar, e me inspirou.
A história era sobre um jovem rapaz suburbano que vivia o dia a dia da violência de gangues, mas conseguiu tirar daquilo tudo um grande aprendizado e escreveu um livro.

Sobre inspiração, não sei ao certo de onde vem, nem como vem.
Se eu soubesse , correria pra contar a todos os que procuram.
Conhecimento em segredo pra mim é conhecimento inútil.

Por dias passo sem conseguir escrever texto algum, e não me obrigo a escrever.
Dou uma trégua pra minha mente e não me esforço.
Porque sei que tem dias que penso em tanta coisa, tantos sentimentos, minha mente clareia de tal forma que quando percebo, já escrevi quatro ou cinco textos.
Busco inspiração na vida, e na forma que mais me seduz, a humanidade.
Sou apaixonado pela podridão da alma humana e em seus defeitos.
Escrevo também sobre mim, não por egocentrismo ou presunção. Escrevo sobre mim somente por ser o assunto que mais conheço nesse mundo, mesmo me conhecendo muito pouco.

Não corra atrás de inspiração, nem obrigue a si mesmo a fazer aquilo que não lhe convém no momento. Leia bastante.
Como aprendi muito cedo, não corra atrás de borboletas, cuide de seu jardim que elas virão até você.
Não force sua mente, aja naturalmente que uma hora ela te mostra o caminho e te aponta o talento que tanto anseia em descobri.
Não se leve tão a sério, relaxe.

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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Esperança



Cadê você que não me escuta, já conheces minha conduta?
De noite chamo teu nome, o medo de ter me consome.
Me pego sempre a pensar, que sozinho não posso ficar,
Te espero minha amada, amante. Mesmo que mores distante.

Escrevo e estou sempre a cantar, torcendo que possas me achar.
Tu tens sido minha nobre canção, por quem clama esse coração.
Me incentiva saber do existir, mas sem ti nem consigo dormir.
À tempos aqui te venero, és meu motivo sincero.


Não sei nome, teu rosto ou olhar, por isso insisto em gritar.
Pra que um dia escute por mim, já me sinto tão perto do fim.
Eu ainda insisto em ti ter, és minha razão de viver.
Venha, escute esse meu clamor, tu um dia serás meu amor?

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A falta que a falta faz


Sinto falta das tarde de domingo chuvosas.
Sinto falta do companheirismo incondicional.
Sinto falta de rolar na cama por cócegas.
Sinto falta da liberdade prisioneira.
Sinto falta das piadas internas.
Sinto falta de mãos dadas.
Sinto falta de sua demora no banho.
Sinto falta de velar por teu sonho.
Sinto falta de admirar sua beleza dormindo.
Sinto falta de quando ficava brava.
Sinto falta da TPM e de me estressar com você.
Sinto falta das viagens de carro.
Sinto falta do abrigo em seus braços.
Sinto falta da amiga que tive.
Sinto falta dos segredos trocados.
Sinto falta de edredon, suor e calor.
Sinto falta de amar.

Sinto falta do que nunca tive.
Sinto falta de você que não existe.

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Fascínio


Eu tenho um pai, ponto. Mas será mesmo que ele tem um filho? Existe uma fronteira entre ter um pai e ser um filho, um portal de seda, transparente, quase imperceptível.
Por anos preferi pôr em julgamento as atitudes daquele velho insensato. Minha infância interrompida, o alcoolismo destrutivo, as palavras sádicas, traumatizantes e mortais. Tudo o que me levou à inúmeras tentativas de suícidio social, temendo palavras acusadoras.
Aquele hálito etílico me isolava num casulo invisível, me mantendo afastado de tudo e de todos.
Dez nos se passaram e o casulo ainda existe. Ou existia.
Passei décadas de minha vida procurando algo em comum com aquele monstro que tanto tirou meu sono. Desejei a morte do bandido imaturo que roubara minha infância, meus sorrisos. Nada encontrava em comum, além dos traços finos, do cabelo nunca penteado e da paixão pela música. Nada mesmo.
Nunca dei ouvido aos pequenos sinais em nossas conversas, quase um monólogo que ele tanto interpretava. Sempre deixei escapar as pistas que me levaria à inevitável semelhança que ali existia.
Lhe negava atenção quase que por vingança. Mas era meu pai. Cedo ou tarde eu teria de perceber o quanto dele havia em mim. Mais do que eu esperava.
Seu martírio era por mim desprezado, suas lamentações nem me faziam eco, suas histórias imprecisas nunca fora de fato por mim ouvidas. Suas dicas de como eu deveria tocar minha bateria eram desprezadas. - cale à boca, você não sabe tocar - eu amaldiçoava baixinho.
Pouco sei sobre o passado do cara que hoje divide comigo o que mais perto posso chamar de lar, quase um estranho no ninho. Pouco sei sobre a juventude atordoada, sobre a velha guarda e seus amores de infância. Agora lamento.
Choro sobre seus discos a atenção que pouco garanti à alguém de tamanha importância na minha vida.
Hoje, no dia dos pais algo mágico ocorreu.
Sempre ignorei o dia dos pais desde a separação deles dois. Larguei tudo, sai de casa tentando esquecer a data, que de comemorativa pra mim nada era. Não fui longe. Me isolei na internet como faço desde então, preso em meus pensamentos, fui trazido de volta à realidade.
Ouvi as batidas. Um ritmo acelerado e constante, caloroso como um bom samba deveria ser, um vigor profissional.
Me apressei como um louco, pra expulsar seja lá quem tinha sentido a liberdade de invadir meu espaço e tomado minha bateria. Na realidade, seja lá quem estava tocando, simplesmente me fascinara. - É seu pai. - eu ouvi. - duvido, ele não sabe tocar. - e corri. Não acreditava em que meus olhos refletiam, era de fato meu pai. Não o senhor frustrado de 60 e poucos anos que conheço. Era outra pessoa. Podia ver revivido ali meu pai no auge dos anos 60, barba longa, cabelos compridos, aquela beleza estonteante que vira nas fotos de família. Aquele era um pai apaixonado, jovem músico, sambista despretensioso que amava o seu tempo e sonhava tanto quanto eu. Me reconheci imediatamente na figura daquele ardor. Percebi que quando jovem, ele era exatamente quem hoje eu sou. E tocava melhor, muito melhor.
Reconheci ali a paixão fugaz que minha mãe sentira no fatídico dia em que viu pela primeira vez aquele hippie despreocupado, com a barba por fazer, deitado vagabundo sob a árvore, cochilando sem camisa. - Me apaixonei de cara por aquele rebelde mulherengo que detestava trabalhar. - minha mãe romanceava. Até eu me apaixonei. - Era impossível pra época não se apaixonar por um cara confuso e charmoso como ele. Sim, ele era meu pai.
Aqui estou, em prantos sobre seus discos que nunca parei pra ouvir quando ele tentara pôr pra tocar e reconheço Chico, Caetano, Erasmo... Temos muito em comum, quase tudo.
Percebi que ele vê em mim sua juventude sob a árvore. Que vê em meu rock, o seu samba juvenil. E vejo nele, sem clichê algum, meu herói, meu bandido. Meu futuro incerto nas mãos do destino.
Só lhe peço hoje, meu amigo, que seja o que sempre tentou ser, nada mais que meu pai.
Feliz dia dos pais, eu te amo meu velho.

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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Indignação


Eu preciso escrever, não consigo dormir. Algo em mim me corrói ao mesmo tempo que se esforça pra sair, parasita. Quero gritar.
A indignação é maior que meu corpo, meu corpo a prisão.
Minha agonia não é somente pelas injustiças hoje tão comuns, meu martírio é por notar que mesmo não sendo o único com desejo de mudança, os outros permanecem calados, são poucos os que lutam, isso me assusta mais do que desestimula.
Atenção jovens! Futuro dessa nação podre por natureza, desse globo disforme, destruído. GRITEM. Façam sua voz ser ouvida. Falar o que pensa deveria ser um atributo implicito em todo ser humano. Libertem-se, exponham suas opiniões, sem medo.
Se a insatisfação é visível porque cruza os braços? Fique calado, conformado, e nada vai mudar.
Por Deus, ou seja lá o que te é mais importante, mova-se, expresse!
Revolucionem. Não somente pelo mundo, mas por você mesmo como pessoa, como o ser que nele reside.
Não é necessário estar no poder ou ser influente para ser a mudança que deseja ver. Você não precisa ser rei pra governar a nação, os maiores heróis destronaram seus reis.
Mude a si próprio.
A chave da revolução é perceber que não se pode mudar o mundo se não mudar à si mesmo de antemão.
Antes de tentar mudá-lo, perceba que você faz parte dele. Não seja presunçoso, a destruição não muda nada.
Não se pode fechar os olhos, filhos da revolução, a mudança depende de vocês, gradualmente conseguiremos muito, nada é instantâneo, leva tempo. Levantemos pedra por pedra, tijolo por tijolo e quando notarmos a construção estará pronta. Faça sua parte.
Todos tem um talento, seja ele qual for, e teu dom não te foi garantido apenas por capricho. Aos de voz, que cantem; aos fortes, que protejam; aos fracos, que levantem. Ninguém é inútil na evolução. Ninguém, nem mesmo você.
O mundo é feito de metamorfoses, as metaformoses de suas opiniões. Juntos somos fortes, opine.
Dê o exemplo, mude seu lado e à quem ali está. Você não precisa salvar o mundo pra ser herói de alguém, salve a vida de quem está ao seu lado, e não se preocupe, ela também salvará você no final.
Observe suas reclamações: Violência demais, desigualdade demais, sujeira demais...
Agora acorde pra realidade e note que a violência só existe por conta da desigualdade, e que a desigualdade só existe porque pessoas como você, que enxergam o erro, insistem em fingir que não viram, e a sujeira só permanece porque você insistem em não usar a lixeira.
A desgraça de hoje é fruto do coletivo, mas começou com apenas uma pessoa no passado e se tonou uma bola de neve.
Façamos o caminho reverso, juntos podemos reverter a situação, forma da unidade o coletivo, e mudar.
Não acordem revolucionários indo dormir conformistas.
Jovens, uni-vos, o futuro depende de nós, não se pode calar os filhos da revolução.

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Silêncio


A arte de calar reside em mim. Quanto mais eu sinto, mais me calo.
Não calo pra me fazer esconder, muito menos por não sentir, eu me calo pra te fazer detetive, pra que possa desvendar por conta própria tudo aquilo o que se fosse dito lhe pareceria insensato.
Meu interesse é temeroso, meu sentimento exagerado, amplifico-o. Amplificado por meus gestos e caricias, pelas noites que não durmo velando teu sonho. É quase um grito o simples ato de acariciar tua face, deslizar por teus cabelos, escute mais de perto.
Não amaldiçoe minha boca ao dizer Adeus, sinta apenas a força de minha mão que te puxa junto à mim. Encontre nesses gestos o que a fala insiste em dissuadir, encontre em meu abraço o que minha língua despreza em ti.
Me encontre em meus gestos, não em minhas palavras, palavras podem ser mal interpretadas, um abraço não.
Enquanto em dúvida sobre o que penso, não pergunte com pesar. Me agarre sobre ti, escute o coração disparar, e perceba então que não calo por não ter o que dizer, eu me calo é por medo de como possa interpretar.

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Cotidiano


Tua implicância me faz falta, nossas discussões preenchiam meu dia mais do que me estressavam.
Diferente da maioria, eu discuto por gostar, já não quero amor manso, desses poucos imortais. Quero algo sufocado, daqueles que passam por poucas e boas, mas não perdem a paixão.
Quero sentir ciúmes, quero sentir tua falta. Quero o temor de perder e a insegurança de existir.
Me abandone, me despreze, me idolatre no final.
Amores tranquilos já não satisfazem, é coisa de amador. Em nossa dádiva amorosa, somos jovens profissionais.
Me esquarteje em tua unhas, quebremos juntos nossos pratos.
Sem móveis, nem louças, dormiremos sobre os cacos.

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domingo, 1 de agosto de 2010

Amargo


Sonho em encontrar uma menina que perceba que meu distanciamento é na verdade medo de amar. Que entenda que quando eu fecho as portas, na verdade estou pedindo pra que derrube-a com teu carinho.
Que descubra que por detrás desse cara frio, existe alguém sedento por teu calor.
Meu egocentrismo foi a máscara criada pra esconder de todos, que o centro do meu universo é na verdade a pessoa por quem eu amo. E que minha arrogância e descaramento são fachadas de uma pessoa insegura e clemente por atenção.
Essa frieza é passageira, como se quisesse calar todo aquele sentimento que transborda dentro de mim. A recompensa por tua paciência será incalculável se conseguir enfim transpor a fortaleza que circunda meu frágil coração.
Sou um soldado ferido, que foi à guerra e voltou. Temer a guerra me mantém vivo, mas soldado sem guerra não é nem de perto um soldado.
Minha falta de humanidade é baseada em sofrimento adquirido. Me sinto velho demais. Cada dia mais cético, me isolo e me escondo de ti.
Um poeta precisa de emoção, eu só preciso de você.
Sou complexo demais, confuso demais, mas sou decifrável.
Meu maior segredo é não guardar segredo nenhum.
Se te confundo é pra te aprisionar. Nessa teia que crio, torço para que se prenda.
Não preciso que se aprisione, não é isso que quero. Só quero te manter por perto, e que tenha fé, não desista de me ter.
Já não quero mais dizer Adeus, nem tampouco até mais.
Quero que tu fique, quando eu menos merecer. E perceba que o sofrer é quase insuportável, mas a calmaria vem pela manhã. Continue quando menos conhecer.
Venha até mim, e desperte o sentimento que te aguardo. Reacenda a chama que insisto em apagar. Tu reside em mim.
E entenda de uma vez por todas, que no meio dessa confusão toda, sou apenas alguém gritando por socorro.

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